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Mulheres querem treinar na rua sem sofrer assédio masculino

A Tribuna, 4oito e Som Maior destacam atleta que criou perfil para conscientizar homens e empoderar mulheres

Por Vanessa Amando Criciúma, SC, 18/03/2019 - 08:15 Atualizado em 18/03/2019 - 09:01
Giseli foi perseguida por um homem enquanto treinava para a Meia Maratona de Florianópolis. Foto: Foco Radical
Giseli foi perseguida por um homem enquanto treinava para a Meia Maratona de Florianópolis. Foto: Foco Radical

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Mulheres que praticam atividades ao ar livre sabem como são desagradáveis o assédio e o desrespeito masculinos. Seja caminhando, correndo, andando de bicicleta ou realizando algum outro tipo de treino, muitas ouvem assobios, buzinadas, cantadas e palavras indesejadas que homens desconhecidos se sentem na liberdade de direcionar a elas. Diversas vezes, ações deste tipo acabam inibindo as mulheres e elas deixam de fazer exercícios físicos por medo e insegurança. É justamente para evitar que isto aconteça, incentivar e apoiar atletas do sexo feminino, sejam profissionais ou amadoras, que uma mulher teve a ideia de criar o perfil no Instagram chamado “Só Quero Treinar”.

Giseli Trento Andrade e Silva, de 39 anos, é mãe, esposa, professora de Biologia e atleta amadora há cerca de três anos. Ela é mais uma mulher que A Tribuna destaca através do Projeto Elas, lançado no Dia Internacional da Mulher – 8 de março – como uma forma de reconhecimento e homenagem para mulheres que fazem a diferença na sociedade atual. Moradora de Criciúma, Giseli pratica corrida, ciclismo, natação, musculação, pilates e gosta de treinar na rua, o que já a fez sofrer vários tipos de assédio, mas a gota d’água para tomar a atitude de falar sobre isto nas redes sociais foi uma perseguição feita por um homem de bicicleta, no fim do ano ado.

“Estava me preparando para a Meia Maratona de Florianópolis. Saía da minha casa, no Centro de Criciúma, ia correndo até Forquilhinha e voltava, mas naquele dia não deu. Era domingo de manhã, saí cedo e já estava no trecho de Forquilhinha. Um homem de bicicleta me perseguiu, ou por mim várias vezes, fui ficando cada vez mais com medo, até que decidi parar de correr e pedir ajuda. Entrei numa casa de desconhecidos, expliquei a situação e eles me acolheram. Não consegui terminar o treino, liguei para o meu marido e ele foi me buscar”, lembra Giseli.

Casos semelhantes

Depois deste episódio, em conversa com a cunhada, surgiu a ideia de criar a página no Instagram, iniciada em 28 de novembro de 2018. De lá para cá já são quase 11 mil seguidores. Entre curtidas, comentários e mensagens privadas (no chamado Direct), Giseli recebe muitos relatos de mulheres que aram pelos mesmos problemas que ela, ou até piores, como o caso de uma mulher que saiu para correr no dia 25 de dezembro e foi atacada por um homem.

“Cheguei a chorar quando li esse depoimento. Ela estava na casa de tias, onde ou o Natal com a família. Era uma área rural, mas ela já estava acostumada a correr na rua. Só que num trecho um homem apareceu do nada, a agarrou, deu mordidas, jogou no chão e foi muito violento, ela foi bastante agredida e pensava até que iria morrer. Por fim, ela conseguiu se desvencilhar dele e correr para casa, mas ficou muito traumatizada e envergonhada, procurou nosso perfil porque precisava desabafar. Foi uma tentativa de estupro porque ela fugiu, mas poderia ter sido ainda pior”, lamenta Giseli. O agressor acabou sendo preso.

A criadora do “Só Quero Treinar” pensou em usar este caso como alerta para outras mulheres tomarem certos cuidados, mas, em um primeiro momento, a vítima ficou relutante porque o fato foi muito traumatizante para ela. Inclusive, a mulher havia parado de treinar e suspeitava estar com depressão. Porém, depois de um tempo, ela aceitou que seu caso fosse divulgado de forma anônima na página e o resultado foi positivo. Foram tantos comentários com mensagens de outras mulheres prestando apoio e palavras de incentivo que, dias depois da divulgação, ela conseguiu voltar a correr na rua.

Comportamento masculino enraizado

Giseli afirma que os homens importunam as mulheres na rua há muito tempo, que é algo muito enraizado no comportamento masculino, mas que é importante fazê-los refletir sobre como isto é errado e ruim, a fim de promover uma mudança de postura. “As nossas bandeiras são o respeito e a empatia, que nada mais é do que respeitar o próximo e se colocar no lugar do próximo. Queremos sensibilizar o público masculino para não assediarem mais. É preciso pensar: se eles não querem que outros homens façam isso com suas filhas, mãe, esposa, por que fazem para uma estranha que a na rua?”, indaga.

Ela ressalta que as mulheres só querem treinar, por isto o nome do perfil, e que os assobios, buzinadas e cantadas não são bem recebidos por elas. Alguns homens chegam a baixar o vidro do carro para direcionar palavras de cunho ofensivo e vulgar. Já no ciclismo, por exemplo, é comum caminhoneiros arem com o veículo bastante próximo quando veem mulheres treinando, o que, além de ser desagradável, ainda as coloca em verdadeiro perigo.

Além de correr, Giseli também pratica ciclismo e prefere treinar na rua. Foto: LMD Eventos Esportivos

“A roupa também não é convite para nada. Temos o direito de treinar com um short e um top quando está calor, mas homens acham que assediar é legal e isso é ainda pior quando estamos com roupas mais curtas, então algumas mulheres até evitam e usam calça e camiseta, que são mais quentes, para evitar aborrecimentos. Só que isso está errado, o problema não está em nós, está neles”, declara Giseli.

Dicas de prevenção

A atleta destaca que, além da conscientização aos homens, há uma interação bastante positiva através da página com o público feminino. “Cada vez mais, elas estão se empoderando e entendendo que o assédio não é normal, não somos obrigadas a aceitar esse tipo de atitude”, reforça. O espaço virtual também é usado para dar dicas às mulheres na hora de treinar na rua, a fim de prevenir casos como assalto e violência física ou sexual. Veja abaixo algumas delas:

- Treinar em local mais aberto, com bastante visibilidade;
- Levar sempre um documento ou pulseirinha de identificação;
- Evitar fazer sempre o mesmo percurso ou nos mesmos horários;
- Mandar a localização em tempo real pelo WhatsApp para algum familiar;
- Evitar confronto verbal, pois não é possível saber a intensão da outra pessoa;
- Se cruzar com algum suspeito, buscar ajuda em algum comércio ou residência;
- Tentar treinar com assessoria esportiva ou grupos de treino e corrida coletivos;
- Evitar levar carteira e objetos de valor à mostra, como celular na braçadeira e órios;
- Se precisar levar objetos de valor, colocar em pochete pelo lado de dentro da roupa (já existe no mercado);
- Se quiser ouvir música, deixar em volume baixo ou em apenas um dos fones para estar atento ao que acontece ao redor;
- Ativar a função S.O.S. disponível em alguns celulares. Através dela é possível, em caso de perigo, enviar uma mensagem automática de socorro para uma pessoa pré-cadastrada.

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